O Começo Depois do Fim
Capítulo 429: Um Sonho Ainda Por Acontecer
SYLVIE INDRATH
“Arthur, você não vai conseguir.”
Minha voz soou distante para meus próprios ouvidos enquanto eu procurava nos pensamentos de Arthur. Ele tentou me empurrar para fora, tentou me impedir do pior, mas estava muito fraco.
Não me esquivei do desespero que encontrei lá. Eu queria, mas não podia, porque ele não podia. Ele achava que sabia como isso tinha que terminar, acreditava com todo o seu coração bobo e corajoso que só havia um caminho a seguir.
“O portal não vai… Não vai ficar estável por muito mais tempo, Sylv. P-Por favor, não posso deixar você morrer também.” Em vez de continuar a proteger seus sentimentos, Arthur repentinamente mudou de rumo, inundando-me com seu desespero e tristeza. E esperança. Era mesmo a cara de meu vínculo, me dar esperança, mesmo quando não tinha nenhuma para si mesmo.
A dimensão de bolso que Arthur havia conjurado estremeceu e torceu, mas eu me segurei, não me permitindo ser movida através dela enquanto Arthur tentava me forçar a entrar no mesmo portal que Tessia e os outros haviam atravessado.
Não se preocupe, papai. Eu sempre vou cuidar de você. Alcançando minha verdadeira forma dracônica, eu a abracei, simultaneamente me libertando e me contendo. Minha fina estrutura humana irradiava luz violeta enquanto eu expandia para fora, pele clara tornando-se escamas escuras até que eu estava elevando-me sobre meu vínculo.
“Silv? O que você está—”
“Tente se manter vivo enquanto eu estiver fora, está bem?” Eu disse, dando-lhe um largo sorriso para tentar aliviar sua dor. Por que falei desse jeito? Eu me perguntei, distante e desconectada, no fundo da minha mente. Não havia como voltar disso. Ainda assim, parecia… Certo. Melhor do que um adeus. De repente me senti mais forte, mais decidida. Não, isso não é um adeus. Apenas um… Te vejo mais tarde.
Espero.
“Silv, não! Não faça isso!” Arthur estendeu a mão, pressionou as mãos em mim, empurrando, mas o processo já havia começado. Suas mãos passaram direto por mim.
Isso… Não era magia que me ensinaram. Como se alguém em Epheotus se importasse o suficiente com um ‘inferior’ para fazer o que eu estava prestes a fazer. Não, isso era algo inerente ao nosso vínculo. Destrancou dentro de mim no momento em que entendi que Arthur estava prestes a morrer, como se esse conhecimento fosse o giro de uma chave.
Tudo o que me formava estava intrinsecamente, inseparavelmente ligado a ele. Nós éramos um e o mesmo. Meu corpo, minha magia, minhas artes vivum… Eles poderiam salvá-lo, mas apenas se eu desistisse por mim mesma.
Não recebi esse insight em um piscar de olhos, como um trovão no topo das montanhas ou os alicerces trêmulos de minhas crenças. Não, estava apenas lá, como se sempre tivesse estado. Ele era meu vínculo e eu sempre poderia ajudá-lo, mesmo agora.
Mesmo agora.
Meu corpo físico tornou-se etéreo quando desisti de meu domínio sobre ele. Partículas de ouro e lavanda de pura força vital flutuaram para longe de mim para se prender a Arthur, até que todo o seu ser estivesse brilhando por dentro e por fora.
Eu ainda podia sentir sua dor. Seu corpo havia sido despedaçado pelo uso excessivo da vontade de minha mãe, e agora estava sendo refeito, e cada partícula de mim parecia brasas e golpes de martelo para ele. Sinto muito, Arthur. Se eu pudesse tirar a dor também, eu o faria.
Quando ele caiu, o peguei e o empurrei em direção ao portal que havia criado.
“Te vejo mais tarde…” eu disse, minha voz distorcida e de alguma forma incorpórea, e eu só podia esperar que ele me ouvisse.
O portal o atraiu, então começou a desmoronar, levando consigo a dimensão de bolso. Eu sabia que quando ele acabasse, eu também iria, e o resto da minha essência seria apanhada pelo vento quente que soprava pela cidade em ruínas para ser carregada e espalhada por Dicathen. Saber que estaria na grama, nas árvores, nas folhas e na água da casa de Arthur me deixou em paz, e deixei de lado o último vestígio de resistência que me mantinha inteira.
Só então… Fui pega.
O portal em colapso estava se desfazendo, e minha garra, que usei para empurrar Arthur através do portal, estava sendo puxada para dentro. Faltava-me força para resistir ou consciência para entender o que poderia acontecer a seguir. Eu só poderia ceder.
Uma força irresistível puxou minha essência, me arrastando em duas direções diferentes…
Tudo se tornou poeira estelar e o universo em constante expansão. Os sóis pegaram fogo, tremeram e então brilharam. Constelações se formaram, vacilaram e então caíram do céu. Para onde quer que eu olhasse, as pessoas entravam e saíam rápido demais para eu ver. E o tempo todo, eu estava sendo arrastada por ele, mergulhando como uma estrela cadente no céu noturno, insensível de admiração, muito impressionada e alienada de minha própria perspectiva até mesmo para ficar confusa.
O universo em expansão tornou-se nada além de um túnel de luz, cada cor parecia tão brilhante que queimava meu espírito. Eu me senti simultaneamente correndo — puxada inexoravelmente em direção a alguma fonte distante de gravidade — enquanto também ficava quieta e calma, como se estivesse dormindo.
A luz se apagou.
Eu estava em uma pequena sala branca e estéril. Havia pessoas lá. Uma mulher de uniforme branco com uma máscara branca sobre o rosto estava de pé ao lado da cama de solteiro do quarto, olhando para uma prancheta. Uma mulher pálida com cabelos castanhos claros estava deitada na cama, respirando pesadamente enquanto olhava para a mulher de branco. Lágrimas escorriam por seu rosto. Um homem obeso com olhos tristes e cansados estava sentado em um banquinho do lado oposto da cama.
A porta atrás de mim se abriu e um homem mascarado com um vestido de papel azul claro entrou. Dei um passo para trás para evitá-lo, mas ele estava se movendo muito rápido e esbarrou em mim.
Ou melhor, ele passou direto por mim enquanto marchava para o lado da cama. Ele disse algo, então começou a verificar artefatos estranhos, mas eu estava olhando para minhas próprias mãos.
Elas eram pequenas e pálidas, como eu me lembrava delas. Passei-as por meu rosto, cabelo e chifres, mas nada parecia diferente. Exceto…
Estendendo a mão, toquei uma bandeja que estava sobre uma pequena mesa rolante. Minhas mãos passaram por ela.
O que eu sou?
De repente, a mulher soltou um grunhido lamentável e cru, e o homem — um médico, percebi — correu para o pé da cama. Só então percebi uma luz suave de ouro e lavanda irradiando da barriga da mulher, que estava inchada.
O médico começou a dar ordens. O homem obeso desajeitadamente alcançou a mão da mulher. A enfermeira parecia estar fazendo cinco coisas ao mesmo tempo, mas era tudo tão confuso…
E então, quase antes de compreender totalmente o que estava testemunhando, tudo acabou.
A enfermeira estendeu o menino, enfaixado, limpo e chorando, para a mulher, que o pegou com cuidado e o aninhou em seu braço. Ele estava brilhando, irradiando aquela mesma luz dourada e lavanda.
Aproximei-me, inclinei-me para ele e peguei sua mãozinha em meus dedos incorpóreos, tremendo enquanto sorria.
A mulher o encarou por um longo tempo, assim como eu. Então, como se desviar o olhar dele também estivesse rasgando algo dentro de sua alma, ela olhou para o homem. “V-Você tem certeza? Poderíamos—”
Ele balançou a cabeça e ela fez um som como se uma faca tivesse acabado de ser enfiada entre suas costelas. Ele olhou para baixo e para longe, claramente incapaz de suportar isso, e uma única lágrima escorreu pela dobra entre o nariz e a bochecha. “Você sabe que eu gostaria que pudéssemos, mas já estamos sofrendo do jeito que estamos. Sem uma bolsa dos pais… Que tipo de vida poderíamos dar a uma criança. Ele será cuidado. Até treinado, para lutar pelo nosso país. E então, talvez…” Ele engoliu em seco. “Talvez em alguns anos possamos tentar de novo?”
Eu vi a luz deixar os olhos da mulher quando algo quebrou dentro dela, e sabia, sem sombra de dúvida, que não iriam ficar com ele, mas não eram eles me interessavam. Eles não eram minha razão de estar ali… Ele era.
Meu olhar desceu para seu rosto redondo e vermelho, e não o desviei novamente. Nem quando o bebê foi tirado dos pais que nunca conheceria, ou quando dormia e era alimentado em uma sala iluminada com uma dúzia de outros, e certamente não quando ele se arrastou pelo chão do hospital pela primeira vez — embora ninguém mais estivesse observando, exceto pelos outros bebês — ou quando ele deu seus primeiros passos cambaleantes.
Eu o segui quando ele foi transferido do hospital para um pequeno orfanato, observei-o ver o mundo enquanto crescia e aprendia.
Os anos se passaram e eu o observei. Incorpórea, insone, vazia de todo desejo exceto de manter minha vigília, experimentei a vida do menino com ele, passo a passo. Eu estava ao seu lado enquanto ele fazia e perdia seus amigos, enquanto treinava e era guiado para se tornar rei, enquanto era manipulado para derrubar seu melhor amigo, enquanto travava uma guerra pela figura materna de fato que havia perdido.
Eu não desviei o olhar. Mesmo quando ele ficou enfraquecido, perdendo a centelha que o levou a se tornar rei, se debatendo em um mundo que não era adequado para ele e não merecia quem ele se tornaria, eu sabia que era um trabalho necessário. Sem essas experiências, sucessos e fracassos, esse triste rei nunca se tornaria meu vínculo. O desapego e o enfraquecimento do elo com a humanidade que ele sentia agora definiriam sua visão de mundo na próxima vida, quando ele se opusesse a ela.
Mas ele não precisou sofrer muito, porque, desde o momento de seu nascimento, o longo braço do destino se estendeu para ele. E eu estava lá para isso também, o fim de sua jornada como Rei Grey.
Fiquei ao lado dele, meus dedos incorpóreos passando por seu cabelo — ainda não o ruivo que ele herdaria de Alice Leywin — enquanto sentia a destruição se aproximando.
A rápida passagem do tempo — sem sentido para quem não dorme, come, sonha ou mesmo vive — parou repentinamente e trovejante, e senti a presença como meu próprio pulso em minha garganta. Como a própria garra negra da morte, a magia de meu pai se manifestou, agarrando-se ao rei adormecido.
Eu me encontrei desamparada. Estava presente apenas na consciência, sem substância e poder, e não podia fazer nada além de agarrar o espírito sendo retirado de seu corpo pela garra negra e iminente da reencarnação forçada. Mas… Eu sabia, mesmo que tivesse a capacidade de fazer isso, não teria impedido o que estava acontecendo. Porque esse momento estava trazendo Arthur um passo mais perto de mim, mesmo quando eu já caminhava ao lado dele.
Os métodos de Agrona eram cruéis e horríveis, mas ele me trouxe Arthur. Ou… Estava me trazendo Arthur? Depois de tanto tempo na Terra, vagando no rastro de Grey como um fantasma assustador, às vezes era difícil manter a noção do tempo. Minha vida parecia um sonho ainda por acontecer, minha morte como o começo após o fim…
Agarrada ao espírito dividido, fui arrastada para cima, para longe do corpo deixado para trás, do palácio no qual repousava, do país do qual ele havia sido rei e do mundo que forjou o espírito que eu não queria deixar ir.
O tempo e o espaço se abriram diante de nós, uma reversão da força que me atraiu ao primeiro nascimento de meu vínculo. O próprio universo parecia se desdobrar, como cortinas de estrelas sendo puxadas para o lado, revelando o palco atrás: nosso mundo, simples, sonolento e quieto depois do barulho da Terra de Grey.
Ainda firmemente nas garras, fomos puxados para aquele mundo, para o continente em forma de caveira de Alacrya e um bebê esperando, nu e chorando no crânio de um dragão esculpido com runas.
Mas isso estava errado.
Arthur não havia — não poderia ter — nascido em Alacrya.
O pânico cortou minha essência incorpórea. Puxei o espírito, tentando detê-lo em seu curso enquanto minha mente enfraquecida lutava para entender. Mas a força da garra negra de Agrona era inexorável. Eu poderia muito bem ter tentado impedir que o sol se pusesse.
Mas eu faria. Por ele, farei o mundo parar de girar se for preciso.
Envolvendo-me ao redor do espírito, concentrei-me no aspecto sombrio de Alacrya em direção à distante Dicathen. Qualquer que seja a força que minha forma atual manteve, esgotei tudo. De repente, eu não era mais o fantasma da pequena garota com chifres. As asas largas e transparentes se abriram e captaram o vento cósmico. Garras poderosas se fecharam ao redor do espírito. Minha longa cauda chicoteava o ar no ritmo da batida de minhas asas.
“Você nunca o terá”, eu disse, sem voz e eterna. “O destino dele está fora do seu domínio.”
Nosso curso mudou uma polegada. Minhas asas espectrais bateram. Quilômetros desapareciam abaixo de nós. Meu longo pescoço se esticava. Dicathen se aproximou ainda mais.
A garra negra tremeu. A forma do feitiço de Agrona não havia levado em conta uma resistência que poderia ocorrer. Ele lutou para manter o curso, mas quanto mais longe eu o arrastava, mais sua força diminuía.
Dicathen se esclareceu abaixo de nós. Sapin passou voando. Ashber correu em nossa direção.
Uma mulher apareceu, de cabelos ruivos e pálida. Jovem, forte e inchada com a luz prateada da magia de um emissor. Isso parecia certo. Eu não tinha certeza do porquê, mas parecia certo. E ao lado dela, um sorriso largo estampado em seu rosto bonito e de queixo quadrado, estava o homem cujo orgulho iria construir a vida do meu vínculo, e cuja morte quase o destruiria novamente. Mas isso ainda não havia acontecido, não aconteceria por muito tempo.
Exceto que já aconteceu. Não foi?
Estava ficando cada vez mais difícil se concentrar. Havia uma música como um perfume doce no ar, chamando por mim.
No meu momento de distração e fraqueza, de repente eu estava caindo para trás, sendo puxada para longe da família que meu Arthur tinha que ter. Esperando dentro da barriga daquela mulher de cabelos ruivos estava o recipiente de Arthur. Nenhum outro funcionaria.
Minhas asas bateram de novo, e compensei minha força decrescente contra a vontade de meu pai.
Meu pai, pensei amargamente. Mas não meu papai…
Puxando com tanta força que temi que minha essência incorpórea se desfizesse, arrastei a garra negra de volta para a casa e o bebê. Um rugido silencioso saiu de mim e ondulou através do tecido da realidade. O espaço novamente se abriu entre mim e meu destino: o bebê nascendo embaixo de mim. O médico já havia começado a trabalhar, dando instruções calmas e firmes…
O espírito em minhas garras tocou o nimbo de luz branca que infundia o bebê.
A garra escura de Agrona derreteu, a névoa negra de sua magia persistente desembolsada pelo vento de minhas asas batendo.
Com uma mistura de alegria e tristeza, observei como o espírito forte e maduro de Grey assumiu e absorveu o espírito infantil dentro do feto. “Sinto muito,” eu disse, minha própria alma de repente pesada com o peso do que eu tive que fazer. “Esta era a única maneira.”
Eu queria ficar, ver Arthur crescer e aprender, testemunhar a formação de seu Núcleo, vivenciar essa parte de sua vida que eu havia perdido, mas…
O doce canto da sereia estava me chamando, e descobri que não podia ignorá-lo. Incerta de quando isso aconteceu, eu havia evitado tanto meu aspecto dracônico quanto a forma de menina em que eu havia permanecido tanto tempo na Terra, existindo agora apenas como minha essência.
Foi com muita dor que me afastaram daquele bebê, daquela família, daquele lar. Meu espírito derivou para o leste em direção às montanhas. Ao atravessá-las, porém, fui interrompida pela mais estranha das visões.
Uma caravana de rostos familiares subindo os caminhos da montanha. Alice, Reynolds, os Chifres Gêmeos, o jovem Arthur…
Mas como? Eu me perguntei. Foram apenas momentos, mas anos se passaram…
Eu só podia assistir impotente enquanto eles eram atacados. Eu sabia o que acontecia a seguir, mas ver isso se desenrolar na minha frente era diferente. Mais sombrio. Muito pior.
Se meu coração estivesse batendo, teria parado quando Arthur, de apenas quatro anos, despencou da beira do penhasco para salvar sua mãe.
Mergulhando atrás dele, meu espírito disforme se arrastou para o dele, como eu havia feito antes, tentando segurá-lo, para impedir sua queda. Mas meu poder foi gasto. Um grito fraco estremeceu através do espaço e do tempo quando caí com ele, infundindo-o com o pouco que restava de mim, de modo que pelo menos sozinho ele não estava.
E então, eu a senti. Tão claramente ali, tão estranhamente o oposto de meu pai em todos os sentidos concebíveis.
Minha mãe.
O poder dela envolveu o pequeno corpo de Arthur, amortecendo-o, trazendo-o lentamente para o chão, e de repente me lembrei dele contando para mim que foi o que aconteceu. Por um instante esqueci, me perdi no desespero e no medo. Restava tão pouco de minha essência…
Eu queria ficar com Arthur, estar com ele quando ele acordasse, mas a fonte da música estava tão próxima agora, e forte demais. Preencheu todos os meus sentidos, esvaziou-me de todos os outros pensamentos enquanto os consumia de forma que apenas a música permanecia. E assim segui, sem poder fazer mais nada.
Suas notas indefiníveis estavam saindo de uma caverna escondida na fronteira da Floresta de Elshire e a Clareira das Bestas. Eu conhecia aquele lugar, e quando o vi, entendi a origem do canto da sereia…
A trilha de notas de invocação me levou para dentro da caverna.
Mãe…
Apesar de vê-la, de estar ciente de sua presença, era difícil focar em minha mãe. Sua forma gigantesca e demoníaca irradiava uma forte aura Vritra, mas não foi isso que desviou minha atenção. Não, ainda era a música. Pois, descansando em sua mão enorme, estava um ovo. Meu ovo. Mesmo na penumbra, brilhava com um tom de arco-íris.
A música vinha do ovo. Atraindo meu espírito para ele.
Corrigindo o paradoxo das minhas múltiplas existências, pensei sonolenta. No momento seguinte, não conseguia me lembrar de ter pensado em nada, ou qualquer outro desejo além de querer estar dentro daquele ovo, toda enrolada, segura, esperando que meu vínculo me trouxesse de volta ao mundo.
E assim fluiu para ele. Então descansei.
Até…
Acordei de repente, confusa com o que me rodeava, sem saber o que tinha sido real e o que tinha sido apenas um sonho.
A casca do ovo que me continha transmitia a sensação de uma segunda pele, e eu percebia que ela estalava e se abria. A luz se derramou na escuridão tranquila do interior do ovo. Pisquei rapidamente quando um rosto embaçado apareceu acima de mim enquanto mais partes da casca se partiam.
Lentamente, o rosto entrou em foco.
Um menino com cabelo ruivo e grandes olhos azuis esperançosos estava olhando para mim. Arthur. Meu Arthur. Exceto que…
Pisquei novamente. Estava errada. Arthur estava mais velho, não era o garoto que me chocou primeiro, mas sim o general e Lança que cavalgou em minhas costas para a guerra, forte e severo, mas também gentil e protetor.
Mas seu rosto ainda estava confuso, e eu pisquei. Arthur ainda estava lá, mas seu rosto era ainda mais velho. Mais afiado, mais magro. Seus olhos azuis se transformaram em ouro líquido, e seu cabelo… Era da mesma cor que o meu.
“Kyu…?”
Um sorriso torto e trêmulo curvou um canto de seus lábios.
“Bem-vinda de volta, Sylv.”